Avaliações
diagnósticas aplicadas aos alunos dos municípios ingressantes em programas do
Instituto Qualidade no Ensino mostram que aproximadamente 60% dos concluintes
do 5º ano do Ensino Fundamental não têm conhecimentos básicos das habilidades
relacionadas a unidades de medida de tempo, ou seja, esses alunos não conseguem
resolver problemas que envolvem o uso do relógio ou do calendário. No final do
6º ano, apenas 56% dos alunos avaliados reconhecem instrumentos de medida de
tempo e os relacionam à passagem do tempo.
Se, por um
lado, esses dados nos surpreendem se considerarmos que, diferentemente do
que ocorria há algumas décadas, hoje a hora certa pode ser lida no aparelho
celular, no painel do carro, nos eletroeletrônicos em geral, por outro, essa
constatação sinaliza que não há um trabalho pedagógico sistematizado no que se
refere ao eixo de grandezas e medidas, sobretudo quando o tema é o tempo.
Para
compreendermos as razões dessa dificuldade é preciso observar alguns aspectos
do ensino e da aprendizagem desse tema, analisando como são as situações
didáticas escolhidas pelo professor e a que objetivos elas atendem. O ponto de
partida dessa observação é a própria sala de aula, ou melhor, o que há em suas
paredes.
Desde o início
de sua escolaridade, os alunos estão habituados a consultar o calendário para
anotar fatos significativos do cotidiano da comunidade em que estão inseridos,
tais como as condições meteorológicas, os aniversariantes do mês, as
festas cívicas e religiosas. Na parede da sala, predomina o calendário mensal,
em que os alunos podem observar os dias da semana e quantos dias tem o mês em
curso. No início do mês subsequente, o calendário é substituído e os
procedimentos se repetem.
Essas
constatações não são suficientes para que o aluno avance na construção das
relações entre as unidades de medida de tempo. A sala de aula deve ser um
ambiente em que calendários variados sejam, aos poucos, inseridos: os que
deixam visíveis os doze meses do ano, os mensais e também aqueles em que a
página é trocada diariamente, como uma agenda.
Um relógio
digital e um de ponteiros também devem fazer parte de toda sala de aula, de
modo a auxiliar os alunos a perceberem as semelhanças e diferenças entre eles.
Além disso, o trabalho desenvolvido pelo professor não pode se restringir à
simples leitura das horas. O aluno que sabe olhar para o relógio e concluir que
são 9 horas e 15 minutos pode não saber informar quanto tempo falta para o
meio-dia. Esse aluno pode ler as horas, mas não consegue determinar a duração
de um acontecimento.
Os períodos do
dia, os dias da semana e do mês, os meses do ano, as estações, vão se repetindo
indefinidamente. Atividades adequadas com diversos modelos de calendários e de
relógios contribuem para a percepção do caráter cíclico do tempo bem como para
a ideia de intervalo de tempo.
Além do
trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula, é fundamental que as
famílias sejam estimuladas a recuperar um hábito que está cada vez mais em
desuso: manter calendário e relógio em algum cômodo da casa, preferencialmente
em altura que facilite o acesso e a consulta por parte das crianças, que irão
atribuir maior significado às propostas escolares.
Cristina Luiza Garbuio
Supervisora Pedagógica de Matemática do
IQE – Instituto Qualidade no Ensino
Publicado em 28/11/2012, no Jornal O Dia (PI)