terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Direto do IQE: O que há nas paredes da sala de aula?

Avaliações diagnósticas aplicadas aos alunos dos municípios ingressantes em programas do Instituto Qualidade no Ensino mostram que aproximadamente 60% dos concluintes do 5º ano do Ensino Fundamental não têm conhecimentos básicos das habilidades relacionadas a unidades de medida de tempo, ou seja, esses alunos não conseguem resolver problemas que envolvem o uso do relógio ou do calendário. No final do 6º ano, apenas 56% dos alunos avaliados reconhecem instrumentos de medida de tempo e os relacionam à passagem do tempo.
Se, por um lado, esses dados nos surpreendem se considerarmos que, diferentemente do que ocorria há algumas décadas, hoje a hora certa pode ser lida no aparelho celular, no painel do carro, nos eletroeletrônicos em geral, por outro, essa constatação sinaliza que não há um trabalho pedagógico sistematizado no que se refere ao eixo de grandezas e medidas, sobretudo quando o tema é o tempo.
Para compreendermos as razões dessa dificuldade é preciso observar alguns aspectos do ensino e da aprendizagem desse tema, analisando como são as situações didáticas escolhidas pelo professor e a que objetivos elas atendem. O ponto de partida dessa observação é a própria sala de aula, ou melhor, o que há em suas paredes.
Desde o início de sua escolaridade, os alunos estão habituados a consultar o calendário para anotar fatos significativos do cotidiano da comunidade em que estão inseridos, tais como as condições meteorológicas, os aniversariantes do mês, as festas cívicas e religiosas. Na parede da sala, predomina o calendário mensal, em que os alunos podem observar os dias da semana e quantos dias tem o mês em curso. No início do mês subsequente, o calendário é substituído e os procedimentos se repetem.
Essas constatações não são suficientes para que o aluno avance na construção das relações entre as unidades de medida de tempo. A sala de aula deve ser um ambiente em que calendários variados sejam, aos poucos, inseridos: os que deixam visíveis os doze meses do ano, os mensais e também aqueles em que a página é trocada diariamente, como uma agenda.
Um relógio digital e um de ponteiros também devem fazer parte de toda sala de aula, de modo a auxiliar os alunos a perceberem as semelhanças e diferenças entre eles. Além disso, o trabalho desenvolvido pelo professor não pode se restringir à simples leitura das horas. O aluno que sabe olhar para o relógio e concluir que são 9 horas e 15 minutos pode não saber informar quanto tempo falta para o meio-dia. Esse aluno pode ler as horas, mas não consegue determinar a duração de um acontecimento.
Os períodos do dia, os dias da semana e do mês, os meses do ano, as estações, vão se repetindo indefinidamente. Atividades adequadas com diversos modelos de calendários e de relógios contribuem para a percepção do caráter cíclico do tempo bem como para a ideia de intervalo de tempo.
Além do trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula, é fundamental que as famílias sejam estimuladas a recuperar um hábito que está cada vez mais em desuso: manter calendário e relógio em algum cômodo da casa, preferencialmente em altura que facilite o acesso e a consulta por parte das crianças, que irão atribuir maior significado às propostas escolares.

Cristina Luiza Garbuio
Supervisora Pedagógica de Matemática do
IQE – Instituto Qualidade no Ensino


Publicado em 28/11/2012, no Jornal O Dia (PI)

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