sábado, 7 de outubro de 2017

Alunos tem nova-aula passeio: desta vez, visitaram o Cajueiro Humberto de Campos e a Praça Santo Antônio

Na manhã de sábado, 30 de setembro, em comum acordo com comunidade escolar, os alunos dos dois turnos da escola, como em agosto (Cf. AQUI) se dirigiram mais uma vez ao Centro de Parnaíba, onde, puderam revisitar o passado de nossa cidade; desta vez, se visitou três pontos turísticos: o Cajueiro Humberto de Campos, plantado pelo escritor maranhense em 1896, a casa onde morou o escritor e a centenária Praça Santo Antônio.
A aula-passeio foi ministrada por nosso diretor, Prof. Hermerson Saulo; todos os professores participaram da atividade e nossos funcionários dos serviços gerais também nos acompanharam; além destes, algumas voluntárias do Programa Novo Mais Educação nos acompanharam na ação.
A atividade iniciou no entorno do famoso Cajueiro localizado à Rua Coronel José Narciso, onde nosso diretor apresentou a biografia de Humberto de Campos e leu o trecho do livro "Memórias" onde o escritor narra sua relação com este cajueiro, que considera como "amigo de infância" (o trecho está disponível ao final desta publicação!); depois de terem explorado a pracinha/jardim do Cajueiro construída pelo prefeito Mirócles Véras (1941) e remodelado pelos prefeitos Alberto Silva (1956), Lauro Correia (ampliado em 1966), João Batista Ferreira da Silva (1977) e José Hamilton Castello Branco (2007), os alunos se dirigiram à fachada da casa onde Humberto de Campos morou parte de sua infância e depois seguiram à Praça Santo Antônio.
Na praça Santo Antônio foi possível relacionar a um tema da semana que estavam também estudando: o trânsito; as placas e demais sinalizações no entorno da praça foram bastante exploradas. Na praça também se conheceu o Monumento do Centenário da Parnaíba, obelisco construído em homenagem à cidade pelos trabalhadores em 1944. 
A aula foi encerrada com um piquenique nos jardins e os alunos gastaram muitas energias fazendo uso dos brinquedos (escorrega, gangorra, balanço) disponíveis na praça!
Os alunos avaliaram muito positivamente a atividade deste dia, além de terem aprendido muito, tiveram um "dia das crianças" antecipado.
Mais uma vez, nossa gratidão aos pais que concordaram que seus filhos participassem desta aula; agradecemos a alguns pais e funcionários que acompanharam a atividade e, agradecemos à SEDUC por mais uma vez nos fornecer o ônibus escolar para nosso transporte.

  • Algumas curiosidades...
O dia do nascimento de Humberto de Campos - 25 de outubro - é a partir de 2009 comemorado anualmente como "Dia da memória da Parnaíba", conforme a Lei municipal nº 2.449, de 10 de novembro de 2008 (DOM 526 - 14/ 11/2008).

Mas, por que celebrar um dia de memória da cidade? A proposta foi apresentada à Câmara Municipal de Parnaíba pelo, então vereador, o Prof. Iweltman Mendes na sessão de 8 de outubro de 2008 e foi defendida em discurso do dramaturgo e teatrólogo Benjamin Santos, leia:
Em 1933, foi lançado na cidade do Rio de Janeiro, um livro que seria dos mais vendidos naquele ano em todo o Brasil: Memórias, do escritor Humberto de Campos. Até hoje, passados 75 anos, é o livro mais popular do autor e aquele que toca mais fundo o coração do povo parnaibano. 
Em suas Memórias, Humberto de Campos relembra a Parnaíba de sua época, cidade em que viveu parte de sua infância e adolescência. Parnaíba está presente em quase todo o livro, refletida com emoção e profunda sensibilidade. Em suas páginas, encontra-se o mais sensível e afetuoso documento sobre a cidade no final do século XIX: o centro da cidade, os costumes, o processo educativo, o comércio, os Morros da Mariana, a Pedra do Sal... 

Tudo isso fez de Memórias uma fonte indispensável para qualquer estudo sobre a Parnaíba de 110 anos atrás. Com o sucesso das vendas durante mais de vinte anos, foi através desse livro que a Parnaíba correu o país e emocionou brasileiros de todas as regiões. 

Tudo começou quando o menino Humberto chegou à Parnaíba em companhia de sua mãe e uma irmã. Vieram para morar, depois da morte do chefe da família, o pai de Humberto. Aqui, o menino morou cerca de oito anos, estudou nas melhores escolas e, certo dia, plantou uma castanha de caju no quintal de sua casa. Em pouco tempo, a castanha germinou e fez crescer o mais frondoso cajueiro da cidade. 

Tempos depois, no Rio de Janeiro, adotando apenas o sobrenome da família de sua mãe, tornou-se o mais popular escritor brasileiro da primeira metade do século XX. E jamais esqueceu a Parnaíba. 

Com seu livro de memórias foi o primeiro escritor a tornar o nome da Parnaíba conhecido em todo o Brasil. E o cajueiro que ele havia plantado em 189[6] continua belo, frondoso, florescendo e oferecendo frutos durante o verão, retrato emocionante da Parnaíba de outrora. 

Nos dias atuais, quando o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional concretizou o tombamento de grande parte do nosso patrimônio arquitetônico e ambiental, faz-se urgente que lutemos pela preservação geral de nossa Memória em todos os níveis. Como forma de incentivo a essa preservação, propomos que o Dia do Nascimento de Humberto de Campos, 25 de outubro, passe a ser designado por lei como o Dia da Memória da Parnaíba. 
Será uma forma dessa cidade homenagear aquele que primeiro registrou aspectos de sua História a nível nacional e de relembrar aos nossos concidadãos que nossa História tem de ser continuamente estudada e relembrada, para que continue viva. 
(Discurso extraído do portal Proparnaiba.com)
  • Biografia de Humberto de Campos
Nosso Diretor, Prof. Hermerson Saulo, junto ao vulto do escritor.
Autor de uma obra incomumente extensa e variada, que consta sobretudo de crônicas e contos humorísticos, Humberto de Campos foi um dos autores mais populares em sua época, principalmente por sua assídua atuação na imprensa. 
Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba-MA (atual Humberto de Campos), em 25 de outubro de 1886. Aprendiz de tipógrafo e depois escriturário, em 1908 lançou-se no jornalismo em Belém-PA e chegou a diretor de A Província do Pará. Fatores políticos forçaram-no a mudar-se em 1912 para o Rio de Janeiro-RJ, onde passou a trabalhar como redator de O Imparcial. A longa série de seus livros de prosa iniciou-se com Da seara de Booz (1918). Publicou depois, entre outros, A serpente de bronze (1921), A bacia de Pilatos (1924), O monstro e outros contos (1932). 
Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1920, foi eleito deputado federal pelo Maranhão em 1927, mas teve o mandato interrompido pela revolução de 1930. Suas Memórias (1933) são apontadas como seu livro mais importante e do mesmo ano são as Poesias completas. Seu Diário secreto, publicado postumamente em 1954, causou escândalo. Humberto de Campos morreu no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1934.


  • Trecho do livro MEMÓRIAS
Um amigo de infância 
No dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda ela cheirando ainda a cal, a tinta e a barro fresco, ofereceu-me a natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando os meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas unidas e avermelhadas, as quais eram como duas jóias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre. 
-- Mamãe, olhe o que eu achei! -- grito, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o mostrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida. 
-- Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca... 
Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é como uma língua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou. 
O meu cajueiro sobe, desenvolve-se, prospera. Eu cresço, mas ele cresce mais rapidamente do que eu. Passado um ano, estamos do mesmo tamanho. Perfilamo-nos um junto do outro, para ver qual é mais alto. É uma árvore adolescente, elegante, graciosa. Quando eu completo doze anos, ele já me sustenta nos seus primeiros galhos. Mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos braços a seu irmão de leite. Até que, um dia, seguro da sua rijeza hercúlea, não o deixo mais. Promovo-o a mastro do meu navio e, todas as tardes, lhe subo ao galho mais empinado, onde, com o braço esquerdo cingindo o caule forte, de pé, solto, alto e sonoro, o canto melancólico da chegança, que é, por esse tempo, a festa popular mais famosa de Parnaíba:  
Assobe, assobe, gajeiro,
Naquele tope real...
Para ver se tu avistas,
Otolina,
Areias de Portugal!  
Mão direita aberta sobre os olhos, como quem devassa o horizonte equóreo, mas devassando, na verdade, apenas os quintais vizinhos, as vacas do curral de D. Páscoa e os jumentos do Sr. Antônio Santeiro, eu próprio respondo, com minha voz gritada, que a ventania arrasta para longe, rasgando-a, como uma camisa de som, nas palmas dos coqueiros e nas estacas das cercas velhas, enfeitadas de melão-são-caetano:  
Alvíssaras meu capitão,
Meu capitão-general!
Que avistei terras de Espanha,
Otolina.
Areias de Portugal!  
A memória fresca, e límpida, reproduz, uma a uma, fielmente, todas as passagens épicas, todas as canções melancólicas e singelas da velha lenda marítima com que o majestoso mulato Benedito Guariba, uma vez por ano, à frente dos seus caboclos improvisados em marujos portugueses, alvoroça as ruas arenosas de Parnaíba. O vento forte, vindo das bandas da Amarração, dá-me a impressão de brisa do oceano largo. O meu camisão branco, de menino da roça, paneja, estalando, como uma bandeira solta. O cajueiro novo, oscilando comigo, dá-me a sensação de um mastro erguido nas ondas. E eu, sugestionado pela imaginação, via -- eu via! -- as vagas rolando diante de mim, na curva do horizonte, onde o céu e o mar se beijam e misturam, as terras claras de Espanha, e areias de Portugal. 
Pouco a pouco, a noite vem descendo. Um véu de cinza envolve docemente os coqueiros dos quintais próximos. Os bezerros de D. Páscoa berram com mais tristeza. As vacas, apartadas deles, respondem com mais saudade. Os jumentos do Sr. Antônio Santeiro zurram as cinco vogais e o estribilho "ípsilon", marcando sonoramente as seis horas. Os do Sr. Antônio do Monte, ao longe, conferem e confirmam o zurro, o focinho para o alto, olhando o milho de ouro das primeiras estrelas. E eu, gajeiro de uma nau ancorada na terra, desço tristemente do folhudo mastro do meu cajueiro, sonhando com o oceano alto, invejando a vida tormentosa dos marinheiros perdidos, que não tinham, pelo menos, a obrigação de estudar, à luz de um lampião de querosene, a lição do dia seguinte... 
Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio. 
-- Adeus, meu cajueiro! Até à volta! 
Ele não diz nada, e eu me vou embora. 
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: "Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças..." 
Há, se bem me lembro, uns versos de Kipling, em que o oceano, o vento e a floresta palestram e blasfemam. E o mais desgraçado dos três é a floresta, porque, enquanto as ondas e as rajadas percorrem terras e costas, ela, agrilhoada ao solo com as raízes das árvores, braceja, grita, esgrime com os galhos furiosos, e não pode fugir, nem viajar... Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua idéia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz? 
Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina corre-lhe do tronco, mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro pálido para as pipiras cinzentas. É um cajueiro moço, e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal. 
Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida: outro adeus mais surdo, e mais triste: 
-- Adeus, meu cajueiro! 
O mundo toma-me nos seus braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei de Brobdingnag com a fragilidade do capitão Gulliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo. 
-- Meu cajueiro, aqui estou! 
Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem; ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos abraçam coqueiros, afogam laranjeiras que noivam, ou ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono... Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco... Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, embaixo, a vasa e a podridão! 
-- Adeus, meu cajueiro! 

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